PINDORAMA: UMA POÉTICA DO  OLHAR – UM OLHAR SOBRE A HISTÓRIA
André Leite Ferreira
No dia 13 de dezembro de 1968  entrava em vigor no país o Ato Institucional Nº5 ou AI-5, que foi  redigido pelo então ministro da justiça do governo ditatorial do General  Costa e Silva, Luis Antonio da Gama e Silva. Este ato institucional  perdurou pesadamente sobre a vida do povo brasileiro até outubro 1978,  um período de medo e terror, mas também de resistência.
Foi neste contexto sombrio da  história do país que o filme “Pindorama” do cineasta e jornalista  Arnaldo Jabor foi produzido. Logo, todo trabalho deste período ou se  enquadrava nas normas imposta pelo regime militar ou usava-se de  alegorias para falar, gritar, sobretudo comunicar um estado de desespero  em busca da liberdade.
Segundo o próprio Jabor: "os  cineastas do cinema novo faziam filmes como se fossem revolucionários"  eram, foram e o são. Já que seus filmes eram manifestos de resistência  de liberdade nos trópicos americanos dominados pela loucura das  ditaduras militares. Com certeza fazer um cinema crítico como faziam  naquele período era bem complicado. Daí as alegorias e a poética do  delírio utilizada amplamente pelos revolucionários cineastas do caos.
Ao se reportar ao início da  colonização brasileira na representação do imaginário país de Pindorama,  o filme se mostra atual, já que remete principalmente ao período que se  segue de 1964 até 1985, porém, ainda hoje se faz importante, já que,  sua leitura pode ser feita agora em pleno século XXI como uma leitura  atual de nossa realidade.
A grande dança do êxtase e da  loucura. Um brado desesperado. A busca por uma identidade nacional.  Antes dos invasores, a terra era fértil. Agora terror e destruição.  Imposição e escravidão. A terra das árvores altas ou terra das  palmeiras, agora se chama Brasil, Pindorama foi saqueada e esquecida.
No filme o delírio é todo  teatral, o poeta na sua interpretação onírica, denuncia a hipocrísia dos  poderosos como num mar revolto, extremamente lúdico e poético. E se  insurge também como um revolucionário guerrilheiro, filho do povo,  vivo,  ativo,  atuante e por vezes liberto no seu próprio delírio e  loucura.
Delírio, loucura e alienação,  fragmentos da realidade. Alegorias poéticas da fome e do caos. Uma  nação consumida. Busca incessante por novas formas. Novas políticas  tropicais. As máscaras estão caindo. A história segue seu rumo. A  geografia também. A busca por liberdade, mas o que fazer com a liberdade  se não cultivarmos a esperança?
Pindorama, o filme, pode ser  apenas uma alegoria, ficção, mas na realidade não é. É sim, a incessante  busca de expandir o olhar sobre uma realidade cada vez mais exigente. A  revolução começa dentro da gente. É preciso encontrar a identidade  perdida no percurso da história.
Entender a história, conhecer  a si mesmo, apurando a memória e organizando nosso espaço. Romper com o  passado, implica conhecer o passado. Se o Brasil é o país do futuro, eu  não sei, mas sei que, é preciso construir agora o país do presente, é  preciso despertar o Pindorama adormecido e seguir adiante com o sonho, a  poética e o delírio.
 

 
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