O CINEMA NOVO: UMA ESTÉTICA TROPICAL
Fernando Campos
O cinema novo surge como um movimento de vanguarda objetivando estabelecer um novo modelo de cinema brasileiro, rompendo com o repetitivo formato dos caros esquemas de produção do estúdio Vera Cruz e contrapor o conteúdo alienado das chanchadas. Alem disso, através da influencia do neo-realismo italiano, tão defendido por Alex Viany, deveria ser voltado ao momento histórico, visualizando a realidade fragmentaria do subdesenvolvimento econômico e exibir a heterogênea diversidade cultural do Brasil.
O inicio desse movimento se deu nos dois congressos (I Congresso Paulista de Cinema Brasileiro e I Congresso Nacional de Cinema Brasileiro) sobre cinema brasileiro, onde foram discutidas novas idéias Para orientar a produção de filmes nacionais. Os entusiasmados cineastas almejavam uma produção de cinema mais barato e o mais autoral possível. Isso se justificava por outra importante influencia a Nouvelle Vague – uma vertente de cinema novo francesa. Vertente, porque, o movimento de cinema novo ocorria em varias partes do mundo – francesa, da qual faziam ecoar em uníssono o lema: “Uma câmera na mão e uma idéia na cabeça”.
Essas idéias se cristalizaram pela experimentação e o improviso numa nova estética cinematográfica genuinamente brasileira (sem desmerecer, Mário Peixoto e o seu “LIMITE” de 1929, que subverte as regras do cinema convencional em favor de um arrojado experimentalismo), reconhecida no mundo todo. A ousadia e o idealismo desses verdadeiros pensadores do cinema foram traduzidos em diversos filmes que faziam emergir um Brasil de paisagens multiformes, variadas linguagens, figuras típicas. Folcloresco e mitológico. Ao mesmo tempo, vibrante, colorido e repleto de sabores. De futuro promissor traduzido numa esperança religiosa. Em constante desequilíbrio. Desfigurado, por um contraste paradoxal do corpo formador de sua sociedade, que concentra toda a atenção na polarizada cultura burguesa do sudeste.
Os principais representantes do Cinema Novo foram: Nelson Pereira dos Santos, Arnaldo Jabor, Leon Hirszman, Roberto Santos, Rogério Sganzerla e Glauber Rocha. Sendo, Glauber, talvez o mais representativo expoente. Visionário pela inquietude, frenética disposição em lutar, a virulência de sua reflexão e discurso, aliado ao vasto material intelectual gerado sobre o movimento e sobre a realidade do seu tempo.
No período de 1969 a 1974 o Cinema Novo começava a perder força, centenas de filmes produzidos permanecem como documento de um cinema (NOVO) que conseguiu instituir uma expressão de Brasil, expondo os pedaços de sua realidade dilacerada, para nos fazer constatar o processo de ruína que nossa sociedade parece aceitar com uma medíocre condescendência.
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