segunda-feira, 22 de agosto de 2011


Filme, Música e Experimentação: The Velvet Underground & Nico ou Andy Warhol e sua 16 mm na Factory
André Leite Ferreira, Fernando Campos

No final da década de 1980 o punk era tido como um movimento radical, o que dizer então de uma geração que na década de 1960 vivia o caos dos anos Pós-Guerras Mundiais e inicio de uma Guerra Fria, pautada no controle ideológico e cultural. O capitalismo devora o corpo e a alma. Viva o Consumo.
Andy Warhol percebia as coisas além de seu próprio tempo, devemos, no entanto, lembrar que antes de Andy, Walter Benjamin já havia percebido os indícios do caminho que a arte iria trilhar na era da reprodutibilidade. Assim, ele foi um visionário da Pop Art que alguns anos mais tarde Warhol vai criar.
Andy Warhol era uma bomba que explodiu no lugar certo e na hora certa e que puxava para si as ações que favoreciam um certo coletivo que ele apadrinhava. Entretanto, eram indivíduos também radicais como ele, bastava olhar o Velvet e perceber as figuras de Lou Reed e John Cale atuando alucinadamente com seus delírios e fúria.
A seu modo o Velvet foi revolucionário, ou melhor, contribui diretamente para a produção de uma revolução estética e comportamental, que ainda hoje se reflete no modo como uma determinada camada da juventude vive e percebe o mundo ao seu redor.
Esta é uma experiência de extrema perversão onde o que vale é o sentido. Calças, botas de couro e chicotes. Tudo ao extremo. Tudo muito intenso. Para muitos dessa época tudo passou assim, tão de repente, porém, o sol ainda brilha.
A barbárie pós-moderna. Guitarras distorcidas gerando barulhos incompreensíveis. Canções construídas com sussurros, gemidos, gritos. Puro experimentalismo e ousadia. Eles não sabiam cantar, mas eles cantavam (E ENCANTAVAM de uma maneira bem peculiar!). Eles não sabiam tocar, mas tocavam (até encontrar nossos corações até hoje!), eles não sabiam pintar, mas conheciam a técnica do silk screem, ou serigrafia, como queiram. E viva a reprodução da imagem: Marilyn Monroe, Mao Tse-Tung, Elvis, etc.
A fúria da juventude não podia mais ser contida. Não existia mais controle e o céu podia desabar. O tempo era de tédio. E as drogas e o sexo e principalmente o ROCK’N’ROLL eram como antídotos indispensáveis para qualquer jovem da época. A própria realidade era alucinante e muito barra-pesada. A heroína levou vários à morte e outros tantos a enlouquecer. Ainda hoje se você andar com uma camiseta com a reprodução da famosa capa do disco the velvet underground and Nico, que traz uma banana, serigrafada por Andy worhol, podemos perceber o choque no olhar das pessoas e isso é só o começo do absurdo que reproduz-se ainda hoje.
O cinema já havia chegado a limites extremos de experimentações, mas é com a popularização das câmeras de mão que o radicalismo experimental dos vídeos chega a situações inimagináveis. Andy radicaliza com sua 16 mm e transforma essas experimentações em cru manifesto dos sentidos, choque mental e puro delírio.
Em velvet underground e Nico, vídeo de warhol, não podemos perceber o filme, é um vídeo-ensaio do grupo velvet underground e Nico na factory, onde o ensaio é finalizado pela presença da policia. Motivo: denuncia de barulho demasiado (um grande elogio em se tratando de V.U). Imagens em branco e preto, movimentadas pelo som da banda. Não existe diálogo, somente frases entre a música e as imagens. Ora estáticas, ora em movimentos. Sem obedecer nenhuma técnica ou alcançar qualquer nível de precisão, sendo esta imperfeição a própria técnica, ou seja, é a impressão de Andy sobre o grupo, um olhar sobre o cotidiano da efeverscência novaiorquina, que é o resultado expressivo objetivado por todo o grupo.
The Velvet Underground & Nico é uma experiência radical. Uma bomba que revolucionou a década de 1960 e que deixou seu rastro na vida de muita gente. Andy Warhol foi além do convencional padrão da arte e extrapolou os limites da experimentação, quase que só pelo prazer de brincar e explodir cabeças ocas na avenida. No auge do delírio o monstro acordou e devorou todo mundo, o sol ainda brilha, mas agora de forma muito mais radical e muito mais violenta. Viva a experimentação e o absurdo. Viva a loucura.  


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