terça-feira, 5 de julho de 2011

O Caos Dentro da Gente
André Leite Ferreira

Houve um tempo em que a juventude armada de utopia marchava rumo ao horizonte, buscando se desvencilhar das amarras reorganizando seu próprio caos.
Acima de tudo, prevalecia a unidade e a consciência de classe. Tempo em que o movimento estudantil, não só se rebelava como se organizava e lutava de forma coerente para derrubar a estupidez.
Tempo em que as utopias estavam sempre de armas em punho combatendo a apatia e a indiferença quando a filosofia radical fazia sentido. O que dizer do céu que nunca desaba?
- Maiakovski tinha razão!
- Van Gogh tinha razão!
E todos os loucos que não se renderam tinham razão.
A luz surge e me cega/ eu perdido no meio desse jardim/ longos túneis/ o painel da liberdade é vago/ todo Buda bêbado é um iluminado/ a nossa estrela definha friamente/ e erguemos telas para apreciar a arte/ o cinema foi atropelado no meio do caminho/ se não conseguimos nos erguer, a culpa é tão somente nossa/ é mais fácil se vender por alguns trocados do que lutar e correr o risco de ser odiado, mas eu sou o ódio e a doçura, anjo de asa negra em meio a greve, o terror e a loucura/ um Buda bêbado e revoltado, por isso iluminado/ quase candido e desgraçado.
Todos correm até o shopping, a lua começa a apagar e a doença é certa.
A massa inerte e deformada é um retrato do desespero, do cansaço e do tédio – para nós como resultado, somente a extinção da consciência de classe – paquidermes abobalhados que correm feito baratas tontas de um lado para o outro, sem horizonte, sem luz, sem desejo, apenas a maquina – deusa suprema da corrupção e do massacre.
Como esquecer a ICONOCLASTA imagem de um estudante alucinado e criativo que com sua metralhadora derruba a mediocridade do alto da torre junto a seus companheiros bêbados de liberdade respondendo a altura a seus mestres monstruosos, que sempre torturavam e matavam a alma dos discípulos.
O filme IF, do diretor inglês Lindsay Anderson, lançado em 1968 é um retrato da crueza de uma sociedade tecnoburocrática que usa-se da arma mais poderosa para doutrinar e justificar a violência: A EDUCAÇÃO. Esse retrato bem pode ser visto ainda hoje, onde, mais do que nunca, essa educação trabalha a serviço da alienação massiva das classes estudantis.
Reflexo do histórico momento, abominável, diga-se de passagem, no Brasil, um momento de extrema repressão, violência e ditadura imposta pelo consumo e alienação favorecidos pela máquina medonha do Estado.
Se nos atermos a processos locais como no caso de Belém essa decepção vai além de qualquer esperança, já que a classe estudantil deveria ser uma classe unida, mas, corre dispersa em meio a multidão e o consumo massivo.
IF é um pequeno recorte da revolta que hoje se cala dentro de cada um, um recorte do desejo de viver a vida até o seu extremo, porque, sobreviver não é viver é subviver e se agora está na linha de frente, naquele momento era questionado a todo vapor.
O mal dos tempos, o mal-estar da dita pós-modernidade, mas, querendo ou não querendo, somente na morte seremos iguais, já que, ela, a morte, não tem nenhum preconceito, é livre das amarras e jamais faz distinção ou mesmo abre exceções.
IF é um delírio permanente, totalmente fora de controle. 

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