terça-feira, 15 de maio de 2012


Uma Guerra Dentro da Gente: Re-Invenções da Vida
André Leite Ferreira

De repente a magia do fazer cotidiano pode ser perdida nas profundezas obscuras de nossas memórias. As brincadeiras mais corriqueiras despertam, por vezes, amizades que ultrapassam as barreiras medonhas da nossa pequenez e entendimento.
O primeiro olhar para o céu nos cega os olhos, pois, a incidência da luz nos atinge a retina. Quando nos achamos libertos do tédio e todos os preconceitos é, verdadeiramente, quando nos deparamos com eles.
O Menino do Pijama Listrado é desses filmes que nos fazem refletir sobre o sentido de humanidade que paira sob nossos discursos. O Outro e Eu. Nem sempre vencemos as engrenagens e contradições que se apresentam em nossas vidas.
Inventa-se a vida e o cotidiano por meio das brincadeiras que possibilitam reinventar o sonho e a vida. Verdade que segue um roteiro básico de autopunição e, desse modo, cria uma atmosfera que mistura dor e prazer. O fim é apenas mais um processo que no fim experimentamos cedo ou tarde, estando, nós, preparados ou não. É, portanto, uma poética do lúdico. Brincar é uma necessidade. Produção e ação de um conhecimento imaterial que é fruto da experiência. Como diria Mário Faustino, esse fazer é uma poesia-experiência, uma oficina continua de desejo e comunicação.
Inventa-se o mundo pelas brincadeiras. Logo, são elas que possibilitam a experiência e a (re) construção da vida pela aventura inusitada de ser e estar vivo. O poeta Paulo Leminski já havia percebido que a verdadeira guerra é a que existe dentro da gente, misto de Deus e de Diabo, não que seja nossa intenção polarizar a vida em bem e mal, ou mesmo em bom ou ruim, mas a experiência é que nos possibilitará conviver com estes monstros dentro da gente.
Explorando o espaço geográfico é que podemos compreendê-lo melhor porque é nele que nossas ações e experiências ocorrem. Mas isso, num plano material, pois esta materialidade é que fornece informação para nossa reflexão. Isto se dá numa esfera subjetiva do espaço, na alteridade, no plano simbólico e imaterial. Significa, portanto, precisamente a aventura de desbravar os lugares subjetivos e objetivos através das brincadeiras que nos ajudam a despertar para o sonho. Se não como podemos idealizar a humanidade futura? Meu coração tem catedrais imensas dizia Augusto dos Anjos e Jorge Mautner criador do Kaos queria comer as gotas das chuvas que se formam atrás das nuvens, atrás dos arranha-céus.
O pijama listrado não é um pijama, nem mesmo o Campo de Concentração é um canteiro de obras, ou ainda, campo de futebol ou de brincadeiras. Porém, o que pode um menino de 8 anos de idade, se não brincar para conhecer e experimentar a vida?
De repente nos voltamos para o discurso da sustentabilidade, entretanto, esquecemos de ser sustentáveis na prática do cotidiano. Construímos nossas cidades sobre terrenos sagrados de cemitérios de povos antepassados e sob o sangue de homens, mulheres, velhos, crianças e animais. Manchamos o sonho e a vida e aguardamos eternamente um Cristo Libertador, que, na primeira oportunidade crucificaremos novamente para por fim continuarmos a aguardar o insondável.
É, portanto, a brincadeira, o jogo lúdico um caminho que nos possibilita a reconstrução de si. Este processo é um continum. É o que nos devora por dentro e nos faz guerrear desesperados na busca incessante de inventar e re-inventar o cotidiano.

  

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