Uma
Guerra Dentro da Gente: Re-Invenções da Vida
André Leite Ferreira
De repente a magia do fazer
cotidiano pode ser perdida nas profundezas obscuras de nossas memórias. As
brincadeiras mais corriqueiras despertam, por vezes, amizades que ultrapassam
as barreiras medonhas da nossa pequenez e entendimento.
O primeiro olhar para o céu
nos cega os olhos, pois, a incidência da luz nos atinge a retina. Quando nos
achamos libertos do tédio e todos os preconceitos é, verdadeiramente, quando
nos deparamos com eles.
O Menino do Pijama Listrado
é desses filmes que nos fazem refletir sobre o sentido de humanidade que paira
sob nossos discursos. O Outro e Eu. Nem sempre vencemos as engrenagens e
contradições que se apresentam em nossas vidas.
Inventa-se a vida e o
cotidiano por meio das brincadeiras que possibilitam reinventar o sonho e a
vida. Verdade que segue um roteiro básico de autopunição e, desse modo, cria
uma atmosfera que mistura dor e prazer. O fim é apenas mais um processo que no
fim experimentamos cedo ou tarde, estando, nós, preparados ou não. É, portanto,
uma poética do lúdico. Brincar é uma necessidade. Produção e ação de um
conhecimento imaterial que é fruto da experiência. Como diria Mário Faustino,
esse fazer é uma poesia-experiência, uma oficina continua de desejo e
comunicação.
Inventa-se o mundo pelas
brincadeiras. Logo, são elas que possibilitam a experiência e a (re) construção
da vida pela aventura inusitada de ser e estar vivo. O poeta Paulo Leminski já
havia percebido que a verdadeira guerra é a que existe dentro da gente, misto
de Deus e de Diabo, não que seja nossa intenção polarizar a vida em bem e mal,
ou mesmo em bom ou ruim, mas a experiência é que nos possibilitará conviver com
estes monstros dentro da gente.
Explorando o espaço
geográfico é que podemos compreendê-lo melhor porque é nele que nossas ações e
experiências ocorrem. Mas isso, num plano material, pois esta materialidade é
que fornece informação para nossa reflexão. Isto se dá numa esfera subjetiva do
espaço, na alteridade, no plano simbólico e imaterial. Significa, portanto,
precisamente a aventura de desbravar os lugares subjetivos e objetivos através
das brincadeiras que nos ajudam a despertar para o sonho. Se não como podemos
idealizar a humanidade futura? Meu coração tem catedrais imensas dizia Augusto
dos Anjos e Jorge Mautner criador do Kaos queria comer as gotas das chuvas que
se formam atrás das nuvens, atrás dos arranha-céus.
O pijama listrado não é um
pijama, nem mesmo o Campo de Concentração é um canteiro de obras, ou ainda,
campo de futebol ou de brincadeiras. Porém, o que pode um menino de 8 anos de
idade, se não brincar para conhecer e experimentar a vida?
De repente nos voltamos para
o discurso da sustentabilidade, entretanto, esquecemos de ser sustentáveis na
prática do cotidiano. Construímos nossas cidades sobre terrenos sagrados de
cemitérios de povos antepassados e sob o sangue de homens, mulheres, velhos,
crianças e animais. Manchamos o sonho e a vida e aguardamos eternamente um
Cristo Libertador, que, na primeira oportunidade crucificaremos novamente para
por fim continuarmos a aguardar o insondável.
É, portanto, a brincadeira,
o jogo lúdico um caminho que nos possibilita a reconstrução de si. Este
processo é um continum. É o que nos devora por dentro e nos faz guerrear
desesperados na busca incessante de inventar e re-inventar o cotidiano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário